segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Incêndio destrói Museu Nacional do Rio

Amanhecemos nessa segundona com um enorme sentimento de vergonha nacional. Desviei meu olhar de pão amanhecido do espelho do banheiro. Não quero olhar direto nos meus próprios olhos pois esse sentimento de conivência é muito forte. Sou conivente pois não fizemos nada para impedir a barbárie que há muito tempo é perpetrada no Brasil. É com muita tristeza que assistimos ao vivo a destruição de um acervo amealhado por dois séculos em apenas duas horas. Apenas uma escada magirus podia ser vista, depois fiquei sabendo haver mais uma em atividade, esguichando um chuveiro de água. As imagens de um drone logo no começo do incêndio mostram que o fogo ainda estava na frente do prédio, mas FALTOU ÁGUA nos hidrantes . Tanto é verdade que várias obras puderam ser retiradas da parte que ainda não fora atingida, vergonha na prevenção e vergonha na ação . O Brasil vem sendo tratado exatamente da forma transmitida pela TV ontem a noite. Se as obras e peças de um valor inestimável  são cuidadas assim, com esse jeitinho brasileiro degradado , da mesma forma a vida de milhares de brasileiros  assassinados , sete a cada hora,  também o são . A discussão é se Lula vai ser candidato ou não, apesar da lei da ficha limpa , sancionada pelo próprio Lula, determinar que não, não deveríamos perder tempo com isso e sim em arrumarmos a enorme bagunça jurídica instalada no país. Vergonha, vergonha, a Cultura vilipendiada, assim como a massa de brasileiros inocente que ainda acredita nas instituições, que vergonha senhores congressistas, que vergonha senhores desgraçados filhos da puta que guardam em segredo as regras desse nojento CASSINO chamado brasil, que diariamente os deixam mais ricos, seus sanguessugas do caralho vcs não têm limites seus corrompidos insensíveis, vcs não percebem a desgraça que estão provocando,   não percebem o mal que está fazendo pras futuras gerações, seus políticos de merda, renans, lulas,collors, sarneys, serras,gilmares, seus putos enganadores do povo, queimadores da cultura,olha os bolsonaros agora o mais votado, é tudo farinha do mesmo saco, até quando seus corruptos de merda , até quando vão sugar a vida do brasil ?, e até quando brasileiros ( cadê vcs hein ) vamos aguentar como burros de tropa a farra do andar de cima, até quando vms nos satisfazer em ser o gado dessa gente sem escrúpulos, até quando vms estender tapetes vermelhos para proteger seus pés, até quando vms abrir nossas portas para deixá-los frequentar nossas  casas ? até quando desgraçados brasileiros cujo inimigo também é brasileiro, também nasceu aqui, desgraçados brasileiros que estão se entupindo de cocaína na ânsia de experimentar a liberdade e não percebem que essa liberdade é a fugaz que não dá conta, que a verdadeira liberdade já lhes foi arrancada na raiz por esse SISTEMA impiedoso e arrasador que tomou o estado brasileiro, e é gerenciado por poucos que permitem que o sistema político funcione como mascara chamada democracia, mas que na verdade é um sistema voltado para enriquecer e dar poder a poucos grupos de banqueiros, empresários, pastores e políticos. E a cultura que se queime ao vivo na TV. E o morro que se lasque, o importante é a droga consumida , e o povo que se dane nas periferias das grandes cidades. Vergonha, vergonha, vergonha.

quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Lacan

Vivemos alternada e indefinidamente vibrando entre duas vias , uma interna e outra externa e nosso mundo como o entendemos é esse constante viajar nesse espaço privilegiado.
Dito isso, voltamos para nossa história que está muito legal, um zumbido insuportável acorda todos os moradores da velha pensão no bairro de Santa Cecília. Não é violentamente nostálgico ?, lembra bem os casarões da Martinico  Prado com  suas janelas dando para a  calçada ,  inúmeros quartos a maioria servindo como  pensões para estudantes gerenciadas por velhas tias solteironas ,corcundas algumas, alcoólatras, religiosas e que adoravam uma boa e farta comida, tipo galinha caipira no molho pardo ,polenta, uns torresmos talvez, ou um quartinho de  leitoa assada , e vinho .
Voltando novamente, hoje está difícil de manter o foco, como diria Blues eyes. Pego o megafone pois preciso da atenção de todos. "Vamos  para a cena anterior !! grito para os atores, "voltem aos seus lugares e congelem na cena da reunião , atenção vamos vamos ".Todos se movimentam menos Dona Acyoly que fica onde está embevecida com tudo aquilo, está em um verdadeiro estado de graça, um pequeno halo azulado pode-se notar acima dos seus cabelos. Logo seu companheiro fala algo baixinho só pra ela ouvir, e ela se levanta e assume sua posição na roda de conversa.
Decido deixá-los ali imóveis, uns dois ou três dias , o tempo que preciso para resolver outros assuntos, abrir uma conta num banco português, verificar a legislação do fisco e daí então volto com mais drama muito drama cheirando a naftalina .

sábado, 25 de agosto de 2018

O Tinnitus

No início até achei ser um ruído dentro da cabeça, bem fino e contínuo, num tom fácil de descobrir talvez para um músico, pra mim mais parecendo uma cigarra tentando o suicídio na ânsia de explodir pelo canto. Estava aumentando de intensidade ,como se fosse possível, foi invadindo os cômodos, banheiros e quartos e acabou por tomar toda a casa. Estávamos todos acordados como zumbis sob o manto deste incrível zumbido coletivo.
Os habitantes da pensão aos poucos foram se encaminhando ,trôpegos e sonolentos em direção à cozinha ampla e iluminada pela claraboia onde se sentaram em um pequeno  semi círculo. DA e sua companheira Dona Acyoli ( a partir de agora será DÁ ) BE, MR (Marduk Ramahn ) , P (Pocho), até o cachorro Peter Tosh, todos sonolentos e irritados. Os idosos irritam-se mais facilmente.
Uma cadeira vazia indicava ser eu o esperado para se iniciar os trabalhos. BE já com o livro preto nas mãos foi falando alto e escrevendo na ata :
_Kraspalva, 45 de janeiro de 25785
Eu entrei já gritando : ¨vcs estão todos loucos ? o que está acontecendo aqui, e vc DA um experiente neurologista, professor e pesquisador reconhecido no mundo inteiro, como deixa isso acontecer, e vc MR que me pareceu pelo que soube das suas experiência viajando pelo interior das neurogaláxias amazônicas, viveu o Kaos da NY antiga, e fica aí com essa cara de condômino em assembléia ? vamos me respondam. ¨
O silêncio absoluto invadiu o grupo, que só foi quebrado pelo zumbido infernal motivo daquela reunião, fazendo com que todos voltassem os olhos esbugalhados procurando o intangível.

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

DP ainda pelas redondezas

Depois da cerveja e das pizzas o dia pareceu estar terminando de uma forma interessante. O quarto de DP vazio, a velha casa de hóspedes com certeza irá  dormir melhor. O telefone sempre toca nessa cena em que as luzes diminuem , o silêncio invade o palco e as respirações da platéia ficam curtas e imperceptíveis. Meu celular tocou, sim, exatamente  às três e meia da manhã, era DP com a voz sibilando:
- Chefe, tá acordado ? Nunca adiantou pedir que não me chamasse de chefe, porra , chefe de que , ele sabia me encher o saco e de madrugada !
- Olha DP não sei nem quero saber o que está acontecendo mas a casa todos daqui estão felizes com seu quarto vazio, principalmente DA. O velho comeu pizza tomou vinho, pareceu estar bem leve, quero saber uma coisa quando é que vem buscar aquelas cxs de remédio. Não temos muito espaço agora. E olha, seu quarto está praticamente reservado pra um velho recém transplantado do cérebro. Seu nome é MR

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Dr Parkinson e Dr Alzheimer

Dr. Parkinson mudou-se pra cá no final de 2017, em novembro mais precisamente num final de semana. Lembro bem do dia, era uma sexta quase de noite. DP (vou chamá-lo assim ), chegou vestido de forma inusitada, havia imaginado alguma coisa de sobriedade, um terno de riscas escuro, um chapéu do século passado, enfim coisas do tipo, mas quem entrou usava calças jeans camisa social e uma jaqueta de motoqueiro. Outros tempos esses, Terra 2, ainda acabo me acostumando. Perguntou-me se poderia fumar no quarto, respondí que sim mas que deixasse a janela aberta. Insistiu na pergunta acrescentando o tipo de cigarro, gostava de fumar haxixe. Continuei dizendo que sim. Entrava e saia sem fazer barulho, levava sempre seu laptop numa bolsa de couro. Usava uns óculos, esses sim eram do outro século, e lenços também . Às vezes ficava na cozinha conversando horas com um outro morador Dr. Alzheimer que a partir de agora chamarei de DA  .

O sumiço de DP

Acabei de saber que DP foi embora, desapareceu, escafedeu-se, virou fumaça, acabou de se tornar meu ex-hóspede, nem sentimos sua falta à mesa da pizza, DA estava parecendo mais feliz, minha companheira Blues Eyes (passarei a chamar de BE ) acendeu várias velas no espaço das letras. O cheiro de enxofre misturado ao haxixe de duvidosa qualidade não irá resistir aos incensos indianos que iremos queimar amanhã. Espero que os cristais absorvam toda essa energia estranha.

sábado, 18 de agosto de 2018

Censo do ibge

Fiquei sabendo nem sei como talvez pela linguagem dos canos da possível chegada do pessoal do IBGE com suas pranchetas lápis borracha e canetas bic e parei com toda a atividade de sobrevivência deixei por um tempo de conjecturas e iniciei uma caminhada pelos cômodos da casa a conferir meus antigos hóspedes uns permanentes outros temporários mas enfim nessa morada quase centenária verificar a possibilidade de algum intruso dormitando em algum canto há muito não visitado e para evitar surpresa maior levo a lanterna a laser e minha rede de pesca dos invisíveis e não podemos descartá-los nunca pois nossa visão tão míope das coisas tão redutora tentando sempre trazer pra razoabilidade esse mundo tão mágico e desafiador se fosse apenas questão de memória seria mais fácil nessa mansarda moram tais e tais pessoas ainda que vocês recenceadores não possam vê-los pois estão a trabalho nesse exato momento mas para ser honesto com os dados a serem coletados e com o resultado da pesquisa quero ter a certeza dos meus informes por isso a caçada ou expedição talvez seja esse o melhor nome  para o que vou empreender a partir de agora.